No dia 03 de novembro de 1981 reuniram-se o Dr. Sérgio
Abuchaim, a Dra. Suzana Beiro R. Teixeira, o Dr. Alfredo
C. Lhullier e o Dr. José Francisco Rotta Pereira discutindo
queixas sobre uma circular encaminhada pela secretária geral
que teria sido pouco clara, agressiva e com erros ortográficos.
Dr. Sergio se encarregou de desculpar-se em nome do grupo.
Na mesma reunião discutiu-se programação para as reuniões
de novembro, convocação aos sócios para prestação de contas,
programação para o ano de 1982, troca de horário das
reuniões para as 4as. feiras e apresentação de certificados
de participação na Jornada do Pensamento Kleiniano.

Assim inicia o livro de atas da SCSF, há 40 anos, e hoje
aqui estamos, brindando muitos encontros, muitos
vínculos, muitas experiências emocionais que se seguiram
desde então, nesta Sociedade. Escrevo como uma das
muitas pessoas que foi acolhida por esta casa e que tem o
desejo de retribuir um pouco de carinho para quem tanto
se doou. Meu presente para a SCSF são palavras, ideias,
afetos, sonhos e versos, um pouco do que a Sociedade
conhece bem e distribui sempre tão generosamente.
Não te conheci criança, Sociedade; sobre tua infância
ouvi histórias, curti fotos, contadas e mostradas com muito
orgulho pelos colegas que lá estavam, como o Dr. Sérgio
Abuchaim, o Dr. Paulo Luís, o Dr. José Rotta Pereira, a
Dra. Rosaura Rotta, e os colegas que foram chegando a
Pelotas, como o Dr. Bruno Francisco Salésio, a Psic. Beth
Francisco, o Dr. Saavedra e por aí vai. Histórias divertidas,
de como trabalharam para manter uma Sociedade Científica,
não vinculada a nenhuma outra instituição, ativa e em pé.
Podemos dizer que a Sigmund teve um desenvolvimen-
to saudável em seus primeiros momentos. Sua “gestação”
foi bastante desejada e seus primeiros aninhos vividos com muito investimento libidinal, o que garantiu que
crescesse bem e amadurecesse como um espaço de trocas
bem estruturado.
Holding e handling também não faltaram. Os cuidados
ambientais, o aconchego das salas expressos no cuidado
com a mobília, com o “cheirinho”, com o cafezinho e até
com o “luxo” das cortinas escolhidas pela Dra. Rosaura
naqueles tempos de escassos recursos, falam por si. A
sala de exposição, com espaço para “arte” no sentido
mais amplo da palavra, “espaço Chico Madrid”, marca a
dedicação ao espaço transicional, ao espaço para os objetos
que nos ligam e ligam nosso mundo interno e externo,
permitindo a comunicação inconsciente de cada um con-
sigo mesmo e com os demais.
E foram passando o tempo e as fases: chegamos ao
momento de preparar, com muito zelo até o banheiro, para
prover conforto também com a intimidade. Afinal, não se
amadurece sem uma boa passagem pela analidade. Novas
salas de estudos são outro orgulho: receberam estudiosos
e os muitos alunos do curso de especialização Teoria e
Técnica Psicanalítica Aplicada à Psicoterapia (TTPAP)
foram demandando mais espaço físico e mental; alguns
tornaram-se mestres e inspiram os caçulas, que se identi-
ficam com os mais velhos, se “alfabetizando” na teoria
da terapia psicanalítica. E por falar em ambiente mental, essa história faz
lembrar outra, a de uma Sociedade ancestral de muitas,
inclusive desta.

No dia 10 de outubro de 1906, quarta-feira, reuniram-se, às
20h e 30min, na casa de Sigmund Freud, o Prof. Dr. Sigmund
Freud, Dr. Alfred Adler, Dr. Adolf Deutsch, Dr. Paul
Federn, Frey, Dr. Eduard Hitschmann, Dr. Max Kahane,
8Dr. Otto Rank, Dr. Rudolf Reitler. Na reunião, o Prof.
Freud lamenta não poder ler seu trabalho “Contribuições
a psicologia aplicada”, que ficou com um membro ausente
naquele encontro do grupo. Dr. Adler sugere fazer-se relação
das publicações recentes da Sociedade, e passam a discutir
o trabalho de Otto Rank “O Drama do incesto e suas
complicações”. O trabalho é apenas mencionado, porque
encontra-se publicado; todos participantes tecem comentários
sobre o trabalho, alguns concordando com o teor proposto
pelo autor, outros discordando, e ainda são feitas relações
com outras obras clássicas da literatura que abordam incesto
e com casos clínicos do Prof. Freud.

Nessa sociedade, em Viena, o grupo começou a se
encontrar em 1902, nas chamadas “Reuniões psicológicas
das quartas-feiras”, mais tarde conhecidas como “Reuniões
das quartas-feiras”, na casa do Dr. Freud. As quartas
foram preservadas quando o grupo passou à Sociedade
de Viena, em 1908, e parece que aqui, no extremo sul do
hemisfério sul, as quartas seguem prestigiadas. O grupo de
Viena também não dispõe de registro em atas dos primeiros
anos de encontro, entre 1902 e 1906. Esse grupo de 17
pessoas, que se reunia sempre no mesmo dia da semana,
apresentou o importante papel de “caixa de ressonância”
para Freud, que não teve suas ideias psicanalíticas bem
acolhidas pelo meio médico e perdeu, naquele período,
seu publicum, ou seu público, como considerava seu amigo
Fliess. Freud teve seu livro “A Interpretação dos Sonhos”
(1900) razoavelmente acolhido, mas seu trabalho sobre
a sexualidade infantil, “Três ensaios sobre a Teoria da
Sexualidade”, de 1905, trouxe muita rejeição ao pressionar
barreiras mais defendidas do intelecto e do conteúdo
reprimido de todos. Apesar de se manter fiel às suas ideias, mesmo que solitariamente, alegando que preferia não abrir
concessões para não comprometer seu trabalho, Freud
nunca desistiu de ser ouvido e escrevia como se fosse para
um público interlocutor. Nesse caso, tratava-se de um grupo
buscando novas ideias e um líder, encontrando um homem
desejoso de seguidores, todos dispostos a discutir problemas
psicológicos, a mente humana.
A diáspora dos psicanalistas favoreceu a criação e a
sustentação de uma instituição maior, internacional, a
International Psychoanalytical Association (IPA), como
esforço para manter a psicanálise viva, e essa coesão
mantida durante muito tempo, ainda se faz sentir na
atualidade. Apesar, de até hoje, a IPA enfrentar dificul-
dades em sua relação com os filiados, pela enorme
diversidade que pretende acolher, todos sentem-se per-
tencentes ao grande corpo da instituição, valorizando o
sentimento de pertencimento àquela associação psicana-
lítica como elemento da própria identidade analítica. Neste
seu percurso, a pequena Sociedade que abrigava pessoas
distintas em suas práticas, na casa de seu fundador, pôde
crescer o suficiente para atingir longevidade até nossos
dias, na forma de uma instituição que dá continência aos
psicanalistas do mundo todo.
Freud assim se refere ao nascimento da IPA:

Julguei necessário formar uma associação oficial
porque temia os abusos a que a psicanálise estaria
sujeita assim que se tornasse popular. (...) Além
disso, visto que a ciência lançara um anátema
contra a psicanálise... achei que seria conveniente
os partidários da psicanálise se reunirem para uma
troca de idéias amistosa, e para apoio mútuo (...)
Grifo do Dr. Eizirik

E assim expressa Plínio Montagna (2009, p. 44) sobre
instituições, comemorando os 100 anos da IPA:

Espera-se de uma instituição equilibrada, na área
psicanalítica, que congregue recursos humanos
e outros, devidamente organizados, para a
promoção de desenvolvimento de seus membros,
contatos com informações necessárias, e interações
humanas dentro de um marco de cooperação,
num movimento de sinergia que confere aos
participantes algo que não seria possível de outra
maneira. As estruturas institucionais, então, não
são externas aos indivíduos, à medida que esses
é que as compõe e que as modelam. Mas, como
o todo é maior do que as partes componentes, o
que ocorre é esse movimento de duas vias, de ir e
vir, entre os indivíduos e a estrutura gestaltica-
mente diferente da soma deles, de modo que nesse
interjogo se constitui a identidade institucional.
A resiliência das instituições psicanalíticas pode
ser vista como a capacidade de permanecer viva
como organismo, confiável como elemento de
referência científica e de atendimento, preservando
suas finalidades diante das transformações macro e
microculturais e sociais com que tem de se deparar,
enfrentando crises sem se fragmentar.

Em atas seguintes da SCSF, foi-se registrando o cui-
dado da diretoria e dos sócios envolvidos em fazer vingar e
manter viva a “nossa instituição psicanalítica”, bem como
oferecer continência a esse sentimento de pertinência.
Talvez o Dr. Sergio Abuchaim tivesse preocupações
como as do Dr. Freud e, como o fundador da psicanálise,
acompanhou de perto todos os procedimentos para
institucionalizar esta sociedade, garantir sua longevidade e protegê-la de abusos, criando este ambiente que pudesse
ser continente, aos moldes de Bion, e promover “uma troca
de ideias amistosa, e apoio mútuo”. Dr. Sergio Abuchaim,
analista formado pela Asociación Psicoanalítica Argentina
(APA), ao voltar para Pelotas iniciou o movimento para
a criação de uma sociedade científica psicanalítica. Fer-
tilizado pela relação com o Dr. Paulo Luis, também for-
mado pela mesma instituição, conseguiram reunir pessoas
interessadas em torno de si.
Algumas dessas pessoas são as que fazem parte
daquela primeira reunião registrada, como o Dr. Alfredo
Lhulier, que escreveu a pré-história da psicanálise em
Pelotas, relatando o nascimento da SCSF, e o Dr. José
Francisco Rotta Pereira, hoje analista didata, diretor do
Instituto da Sociedade Psicanalítica de Pelotas (SPPel).
Aquele grupo já concebia uma sociedade psicanalítica,
que de fato floresceu anos depois, mas, por ocasião,
enfrentou rejeição de outras sociedades ao aceitar em seu
seio pessoas não analistas ligadas à IPA. Assim, manteve-
se como Sociedade Científica, exigindo mais empenho
dos seus fundadores para vingar. Dr. Sergio, tal qual Dr.
Freud, não faltava às reuniões, não descuidava de “seu
rebento” e opinava sobre todos os assuntos discutidos e
todos procedimentos encaminhados. Naquele ano de 1981,
o trabalho seguiu com reuniões semanais até 22 de dezem-
bro e em janeiro de 1982 já estavam de volta. Estamos
aqui com o “presente de Natal” que eles puderam nos deixar.
Nesses primórdios, a SCSF ocupou-se com a sua
expansão pela entrada de novos sócios, sempre discutida e
aprovada pela diretoria, profissionais da área psi, médicos
e acadêmicos, ao que parece, de diferentes cursos. Será
uma mostra da intelectualidade do nosso meio? Estare-
mos reproduzindo o “sonho de Freud” de aproximar a psicanálise da sociedade? Talvez seja uma virtude desta
pequena Sociedade, sua capacidade de abertura, desde o
seu nascimento, o que me faz pensar na seguinte frase:

Uma crença incutida constantemente durante os
primeiros anos de vida, quando o cérebro é muito
impressionável, parece adquirir quase a natureza de
um instinto; e a verdadeira essência de um instinto
é a de ser obedecido independentemente da razão
(DARWIN, 1781).

Dr. Bruno Salésio aposta que o que fez a SCSF nascer
e crescer foi um “impulso de vida”, e que isso garantiu sua
sobrevivência a dificuldades inerentes a todo processo de
institucionalização, incluindo as dificuldades operacionais
e até pessoais que envolveram sua trajetória. A busca por
uma nova sede, no prédio Everest, onde ainda funciona,
passou a fazer parte dos desejos do grupo fundador e tornou-
se realidade em 1982, como também foi vivido por nossos
antepassados vienenses. Marcaram tempo e espaço. O
registro legal da Sociedade foi pauta, ainda em 1981, bem
como a contratação de um contador para regularizar a SCSF
como pessoa jurídica, com conta corrente, pagamentos e
recebimentos e funcionária empregada pela Sociedade. A
regulamentação foi levada a cabo 30 anos depois.
Muitos outros projetos se materializaram, de igual
modo, ao longo desses anos, como a regulamentação de
departamentos, o curso de Psicanálise aplicada à clínica,
o Curso Formativo de Psicoterapeutas, uma revista, um
Boletim Informativo para Sócios e a galeria de arte. A
dedicação à formação analítica formal transformou-se, à
época, para incentivar, inclusive ajudando financeiramente
a formação analítica de integrantes do Centro de Estudos Psicanalíticos de Pelotas, o que bem poderia hoje virar
uma bolsa de estudos. Quem sabe?
A SCSF, como a IPA, também sobreviveu a um período
de restrição das liberdades individuais e institucionais em
função de um período político conturbado, a ditadura militar
em nosso país. A julgar pelos registros e por sua atuação,
trabalhou no sentido da liberdade de expressão, como
se espera de uma instituição desta natureza, agregando
pessoas de distintas formações e posturas, chegando a
convidar representantes de partidos políticos para reuniões.
Mantém, ainda hoje, suas portas abertas, ponto alto do
seu funcionamento, e também faz com que tenha essa
longevidade que Calil (2009) atribui à seriedade do trabalho.
Cláudio Eizirik, ao falar como ex-presidente da IPA,
ressaltou o papel daquela instituição de manter unidos os
psicanalistas, de zelar pela formação analítica, de expandir
o conhecimento psicanalítico, de inserir a psicanálise em
todos os continentes e, também, apontou outros aspectos
que considero relevantes para SCSF, como o imprescindível
trabalho de escuta. Escuta do “outro, verdadeiramente”,
enfrentando, inclusive, as “transferências” que carregamos e
que interferem na harmonia do conjunto. Eizirik aconselhou
o movimento de cuidar do nosso “objeto interno SCSF”,
para compreender o que significa para nós e o que desejamos
que signifique, a partir da nossa participação e colaboração.
Cuidar da SCSF também significa cuidar de nós mesmos,
de uma parte nossa, da nossa “novela profissional”, da
Sigmund que existe em nós, na nossa prática, no nosso meio.
Nas comemorações ao centenário da IPA, a revista da
Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), comemorativa
à data, trouxe uma entrevista com Carlos Augusto Calil
(2009, p. 15-27), cineasta, escritor, experiente administrador
na área da cultura, que aposta na institucionalização para garantir “o acúmulo de experiência transgeracional, que,
se por um lado, pode engessar e inibir o nascimento de
outras, por outro, garante uma bagagem mais sólida”.
Calil acredita que o sucesso das instituições se apoia em
um objetivo relevante, em um meio adequado que as
receba, em serem “bem nascidas”, e estruturarem-se com
profissionalismo e continuidade. E diz: “as instituições são
organismos vivos, envelhecem como as pessoas, são sensíveis
ao carisma, à maior ou menor habilidade de seus gestores”
(CALIL, 2009, p. 24), e precisam sobreviver a eles para
cumprir seu papel. A longevidade das instituições também
depende da percepção de que são um bem da sociedade
e não individual, como uma obra de arte, que depois de
pronta não pertence mais ao criador, e sim à sociedade.
Luis Cláudio Figueiredo (2009) agregou outro ingre-
diente imprescindível à institucionalização: as mediações
paradoxais, ou a possibilidade de manter elementos an-
tagônicos convivendo e equilibrar os movimentos de des-
truição e criação sucessivos nas instituições. Um exemplo
dessas flutuações encontramos, até mesmo, no trabalho
de Freud, que pretendia destruir sua correspondência com
Fliess, o que impediria o nosso contato com uma parte da
nossa história, obviamente mudando o entendimento do
que estamos hoje discutindo.
Neste clima de homenagens à SCSF, aproveito para
render, também, homenagem ao próprio Freud, que batiza
a casa, e escolho seu texto sobre psicologia de grupo (1921),
para pensar “grupos”. Nesse trabalho, o pai da psicanálise
se debruça novamente sobre o funcionamento grupal, como
já o fizera em “Totem e tabu”, de 1912. Em 1921, descreveu
características do funcionamento grupal, como a de que os
indivíduos em grupo, por mais diferentes que sejam quanto
a seu modo de vida, suas ocupações, seu caráter ou sua inteligência, passam a compartilhar uma espécie de mente
coletiva que os faz sentir, pensar e agir de um modo distinto
do que fariam isoladamente. Assim, o grupo forma um
novo arranjo e assume características distintas das de seus
integrantes ou, ainda, características distintas da simples
soma dos seus membros.
Além disso, algumas condições fazem-se necessárias
para o estabelecimento de um grupo organizado, a saber:
um grau de continuidade (Estás indo bem, SCSF!); o
entendimento, pelos membros do grupo, da sua natureza,
sua composição, suas funções e capacidades para o de-
senvolvimento de uma relação emocional entre seus
membros como um todo; a interação com outros grupos
semelhantes; a manutenção de tradição, costumes e há-
bitos, principalmente os que regulam as relações de seus
membros; e, ainda, uma estrutura definida, expressa pela
especialização de seus integrantes e uns com os outros. Na
sequência do trabalho, Freud lança mão do seu patrimônio
e avança: o que mantém um grupo unido é o amor, o
investimento libidinal dos indivíduos naquele grupo, ou,
em suas palavras, “(...) um grupo é claramente mantido
unido por um poder de alguma espécie; e a que poder
poderia essa façanha ser mais bem atribuída do que a
Eros, que mantém unido tudo o que existe no mundo?”
(FREUD, 1921-2006, p. 102) E ainda:
O amor por si mesmo só conhece uma barreira: o
amor pelos outros, o amor por objetos. (...) nos
casos de colaboração, se formam regularmente laços
libidinais entre os companheiros de trabalho, laços
que prolongam e solidificam a relação entre eles até
um ponto além do que é simplesmente lucrativo.”
(FREUD, 1921-2006 , p. 113)

Pensando nessas palavras – e em muitas outras que
ouvi nesta casa – e no aniversário de 40 anos da Sociedade,
quando “a vida começa”, expressarei o que penso e sinto
sobre o momento atual, em que temos uma SCSF im-
pulsionada por uma presidente, Psic. Alzira Gazalle
Bueno, no cargo há três gestões, que amadureceu pro-
fissionalmente na Sociedade, chegando a sua idade madura,
orgulhosamente. Claro que isso só pode acontecer porque
a SCSF chegou aos 40, e, além disso, pode sustentar esse
equilíbrio entre o novo e o antigo, tão caro às instituições
que sobrevivem aos seus fundadores que, em nosso caso,
também se ocuparam com a diretoria por volta de meia
dúzia de gestões em diferentes composições (não é Beth
Francisco?). Aliás, o cargo que está há mais tempo na
mesma mão é o da secretária, Bete, há mais de 20 anos
“no poder da confiança”.
Muitos parabéns cabem em 40 anos, e vou precisar
escolher apenas algumas pessoas para apagarem as velinhas.
Ofereço à Marciara e à Graciela velinhas do curso TTPAP,
representando o corpo docente, pelo reconhecido afeto
envolvido na formação de muitos colegas, bem como ao
Jorge Velasco, à Lauren e à Daiane velinhas dos grupos de
estudos e cursos. Palmas para a biblioteca, física e também
virtual, para as “nossas “reuniões de quartas-feiras” e para
as muitas “Semanas da Psicanálise”, evento que já é parte
do calendário científico e cultural da cidade de Pelotas.
Proponho foto com membros atuais, representados pela
atual diretoria Psic. Alzira Gazalle Bueno, Psic. Diego
Torres Santos, Psic. Doris T.A. Castilho, Psic. Isadora
Pellegrini Zorzella, Eduardo Devens, Psic. Sílvia Leal
Zabaleta, Psic. Carmem R.P. Miranda e Psic. Camila
Mesquita, reconhecendo sua boa postura ao preservar a
imagem consistente e admirada a Instituição.

Aproveitando a maturidade dos 40 e a elaboração
do seu “Complexo de Édipo”, a SCSF introjeta seus
fundadores – e os supera –, de uma forma harmoniosa,
construtiva e criativa. Harmonia é definida no dicionário
como “combinação de elementos ligados por uma relação
de pertinência, que produz uma sensação agradável e de
prazer”, ou “ausência de conflitos; paz, concórdia”. É
preciso muita harmonia para chegar aos 40...
Assim como se fazem infinitas músicas com sete notas
musicais e suas variantes, se faz psicanálise com sete
elementos, nas palavras de Bion. Aqui, cantamos “parabéns a
você” para uma Sociedade harmoniosa, que sabe improvisar
com a musicalidade do que é dito e ouvido, e tem virtuose
para o convívio de “ideias de diferentes graus”, valorizadas
ao mesmo tempo, produzindo belos sons.
Cantado o “parabéns”, apagadas as velinhas, chegou a
hora de fazer o pedido (nem tão secreto): se tudo correr bem
como hoje, vamos ao centenário, como a IPA!! Cruzar as
fronteiras da sala 302 do prédio 280 da Rua Princesa Isabel
e alcançar novos limites é consequência de romper muitas
outras fronteiras do pensamento. Já não é possível citar
ou fazer uma breve retrospectiva de tudo que se construiu
na sede, nas mentes e mesmo fora de seu alcance, nem é
possível sonhar hoje tudo que virá!
E por fim, fica um presentinho...

Porque fizeste anos, Bem-Amada, e a asa do tempo
roçou teus cabelos negros, e teus grandes olhos
calmos miraram por um momento o inescrutável
Norte. (...)
Eu quisera dar-te, ademais dos beijos e das rosas,
tudo que nunca foi dado por um homem à sua
Amada, eu que tão pouco te posso ofertar. Quisera
dar-te, por exemplo o instante em que nasci, marcado pela fatalidade de tua vinda. Verias, então, em mim,
na transparência do meu peito, a sombra de tua
forma anterior a ti mesma. (...)
Ah, quisera eu dar-te o meu primeiro medo e a
minha primeira coragem; o meu primeiro medo à
treva e a minha primeira coragem de enfrentá-la, e
o primeiro arrepio sentido ao ser tocado de leve pela
mão invisível da Morte. (...)
E também o instante anterior à tua vinda, quando,
esperando-te chegar, relembrei-te adolescente na-
quela mesma cidade em que te reencontrava anos
depois; e a certeza que tive, ao te olhar, da fatalidade
insigne do nosso encontro, e de que eu estava, de um só
golpe, perdido e salvo.” (VINÍCIUS DE MORAES)
Tim-Tim! Vida longa à Sociedade Científica Sigmund Freud!

Pelotas, 15 de janeiro de 2021